M&A | Reprodução Humana acelera o mercado da saúde na Espanha e no Brasil Clínicas entram na rota das aquisições
- Erivelton Laureano
- 6 de mai. de 2024
- 4 min de leitura
O volume de investimentos na área de saúde na Espanha tem crescido ao longo dos últimos anos segundo o relatório Tendências globais de fusões e aquisições nos setores de saúde Outlook 2022 da PWC. Além disso, a rentabilidade histórica comprovada, o momento de liquidez do capital privado nacional e internacional e os altos valuations que permitem aos Grupos Espanhóis se posicionarem de forma estratégica neste cenário.
Na Espanha o capital privado tem sido um dos principais responsáveis por este aumento da atividade, passando de 30% durante os 5 anos anteriores a 2021 para 50% do total de investimentos em 2021. Os setores mais buscados foram hospitais, oftalmologia, saúde mental ou centros de terceira idade, sendo que houve grandes transações em Reprodução Humana como Igenomix comprada pela Vitrolife por 1.25 bilhões de Euros e a rede de clínicas Generalife que executa um ambicioso plano de expansão com novas aquisições tenta adquirir globalmente a maior rede clínicas de reprodução humana do mundo, o grupo IVI-RMA que tem valor estimado em U$ 2.2 bilhões.
O tamanho global do mercado de fertilização in vitro está estimado para atingir US $ 36,39 bilhões até 2026, com um CAGR de 10,1% até 2026.
No Brasil o total das aquisições no setor de saúde movimentou R$ 15 bilhões não é diferente e se tornou nos últimos anos um dos mais atraentes para investidores nacionais e internacionais. O que está dirigindo este crescimento são os fatores conjunturais, como o déficit de leitos disponíveis em hospitais e a inesperada pandemia que assolou o país e o mundo, passando por fatores estruturais, como o constante envelhecimento da população brasileira e alterações legislativas que permitiram investimentos estrangeiros o que chamou a atenção de grandes grupos tais como:
Rede D’Or, Hapvida, NotreDame Intermédica, Dasa, Fleury e até mesmo de fundos de investimento em private equity, geridos por grupos como XP Investimentos, BTG Pactual, Pátria e outros.
O Brasil no mundo da Reprodução Humana
Com o envelhecimento da população, a redução do número de filhos por casal, o crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho o impacto nas taxas de fertilidade foi inevitável.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a infertilidade afeta de 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo e, no Brasil, cerca de 8 milhões de indivíduos podem ser inférteis. No Brasil existem cerca de 8 milhões e a idade é um fator determinante para isso, já que os óvulos envelhecem e a produção de espermatozoides perde qualidade com o passar dos anos.
O Brasil lidera o mercado na américa latina e realiza cerca de 45.000 tratamentos ciclos de tratamentos por ano, mas já deveria realizar cerca de 130.000, ou seja, existe um grande potencial de crescimento de mercado para aqueles que se destinarem a investir por aqui.
Dados da IVF Brazil, consultoria especializada neste mercado, apontam que até 2030 o mercado deverá triplicar crescendo a uma taxa média CAGR de 12,5% em um cenário conservador.
Cenário atual:Dados da RedLara – Red Latino-americana de Reprodução Assistida consolida a produção das clínicas certificadas – 2018www.redlara.comwww.ivfbrazil.comDatafert 2022
No roteiro da expansão do mercado está a chamada interiorização da reprodução humana que consiste na abertura de clínicas em regiões fora dos grandes centros populacionais e dos cinco estados brasileiros que ainda não possuem clínicas com laboratórios de embriologia, núcleo necessário para que a clínica seja considerada um BCTG – Banco de Células e Tecidos Germinativos segundo a ANVISA. São eles: Alagoas, Rondônia, Roraima, Acre e Amapá. Os pacientes destes estados precisam fazer longas viagens em busca de atendimento especializado.
O preço médio de um tratamento de Reprodução Humana é cerca de 28 mil reais para uma tentativa. Valor que pode até dobrar conforme a necessidade individual dos pacientes, tipos de exames, testes genéticos e quantidade de medicação. No entanto o Brasil está entre os países com o menor preço do tratamento ao contrário de países como os Estados Unidos onde o mesmo tratamento pode chegar a mais de cem mil reais. O que abre oportunidade para que pacientes americanos possam vir ao Brasil fazer tratamentos e recebam resultados tanto quanto teriam nas clínicas americanas.
Investidores já encontraram o caminho e vão avançar rápido
Cerca de 10% dos tratamentos de infertilidade no Brasil já estão nas mãos de grupos de investimentos que atuam no Brasil. O principal deles é grupo alemão Fresenius Helios que opera EUGIN que opera as marcas Huntigton e PróCriar e o grupo nacional Solum que opera a marca Engravida com sede em São Paulo e Rio de Janeiro e está expandindo para outros Estados.
A Fresenius adquiriu 100% das operações globais do Grupo Eugin, exceto nos Estados Unidos. Para esse mercado, adquiriu 100% da NMC Eugin US Corporation, que detém 70% das ações da Boston IVF.
Em 2019, a Eugin Group gerou vendas de € 160 milhões e obteve um lucro operacional bruto (ebitda) de € 31 milhões.
A rede da Eugin compreende 31 clínicas com laboratórios e 34 clínicas sem laboratórios nos Estados Unidos, Espanha, Brasil, Itália, Suécia, Dinamarca, Argentina, Colômbia e Letônia.
Novos investidores nacionais e internacionais já perceberam o potencial do mercado brasileiro e já acontece nos bastidores o processo de consolidação do mercado com atuação de especialistas em fusões e aquisições. Em conversa com um destes agentes consolidadores, percebemos que deverá acontecer uma primeira onda de aquisições ainda em 2021 e que as principais barreiras são organizacionais e culturais do proprio mercado de reprodução humana. Afinal as principais clínicas são serviços privados e ainda liderados por médicos pioneiros que precisam ser sensibilizados para um modelo corporativo admitindo novos sócios e controladores, o que não é uma tarefa simples.
Erivelton LaureanoO principal articulista do mercado de Reprodução Humana na América LatinaCEO – IVF Brazil
Referências:
Miguel Contreras Tamayo, socio responsable de Sanidad en Deals de PwC
datafert.com – arquivos internos
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